Vencedor do Jabuti foi morador de rua e ganhou prêmio com história do pai

  • 28/10/2025
(Foto: Reprodução)
Escritor André Kondo fala sobre prêmio Jabuti Um dos vencedores do Prêmio Jabuti, realizado no Rio de Janeiro na noite desta segunda-feira (27), é o escritor André Kondo, que levou a categoria juvenil com o livro ‘O Silêncio de Kazuki’. O livro conta a história do pai de André, um japonês que lutou na Segunda Guerra Mundial e se mudou para o Brasil após a derrota do Japão. Além de relatar uma batalha recente do pai contra um câncer, a obra foca na relação de idas e vindas entre os dois, por conta de uma resistência do japonês ao sonho de filho de ser escritor. ✅ Clique aqui para seguir o canal do g1 Vale do Paraíba e região no WhatsApp Em entrevista à TV Vanguarda, André comemorou o fato de ter vencido o prêmio justamente ao contar a história de quem queria ele seguisse um caminho diferente da literatura. “Quando chamaram meu nome, eu simplesmente desabei e chorei muito. Talvez ninguém tenha compreendido direito o quanto esse Jabuti representa na minha vida como reafirmação de que eu poderia me tornar alguém importante fazendo algo que eu amo, que é escrever”, diz André. Ele afirmou ainda que pretende ir a Taubaté (SP), onde o pai mora atualmente, para mostrar o prêmio. Eles têm se reaproximado e André, inclusive, cuidou do pai na luta contra o câncer. “Eu vou mostrar ao meu pai que o filho dele enfim recebeu o mais importante prêmio literário do nosso país, e justamente com a história de um pai que não queria que o filho se tornasse um escritor.” André Kondo, vencedor do Prêmio Jabuti Reprodução Vivência como morador de rua Em meio aos conflitos com o pai por conta do sonho de se tornar escritor, André chegou a ser morador de rua por quatro meses. Ele pesava cerca de 40 quilos quando decidiu recomeçar. O período de André nas ruas começou depois de ele viajar o mundo em busca de histórias para um livro e voltar ao Brasil sem dinheiro devido aos custos da viagem. Kondo passou a ser sustentado pela irmã, até uma briga com o pai. “Foi muito difícil para mim, porque eu estava morando de favor. Eu não tinha dinheiro. Minha irmã estava me sustentando. Então meu pai me questionou se o meu trabalho colocava comida no meu prato e eu respondi de forma atravessada que não, mas que a minha irmã, que me amava, colocava. E aí ele me fala a seguinte frase: ‘se você pensa dessa forma, é pior que um mendigo, porque o mendigo explora quem não conhece na rua e você explora quem te ama’”, lembra André. “Eu passo quatro meses em situação de rua, principalmente por esse sentimento de fracasso, por não ter conseguido escrever o meu primeiro livro. Durante esses quatro meses eu encontro pessoas com histórias terríveis de vida, que me levam a uma reflexão muito clara: eu não tinha o direito de estar naquela situação com aquelas pessoas, porque eu sempre tive tudo. Tive oportunidades que todas as pessoas que conheci em situação de rua não tiveram.” André Kondo, vencedor do Prêmio Jabuti Reprodução/TV Vanguarda Ao tomar a decisão de recomeçar a vida, André procurou o pai, que trabalhava como motorista na região da praça Santa Terezinha, em Taubaté. “Quando ele me enxerga naquela situação, bem magro, com 40 e poucos quilos, todo cadavérico, com roupas surradas, entende que o filho aprendeu a lição. O que ele queria me dizer naquela época era simples: se eu tinha o sonho de me tornar escritor, eu tinha que carregar o peso desse sonho nas minhas costas e não devia colocar isso nas costas de ninguém. O sonho era meu.” Desde então, Kondo correu atrás do sonho de ser escritor e publicou o primeiro livro em 2008. Hoje ele tem 20 livros publicados e afirma que vencer o Prêmio Jabuti é a concretização de tudo o que passou. André Kondo, vencedor do Prêmio Jabuti Reprodução/TV Vanguarda Trajetória A trajetória de André Kondo tem relação direta com o Japão, onde o pai nasceu. Os avós participaram da Segunda Guerra Mundial - o avô como soldado e a vó como enfermeira. Após a derrota japonesa na guerra, a família decidiu se mudar para o Brasil. Ao chegar em um novo país, com língua totalmente diferente, o pai de André passou por dificuldades e também chegou a morar nas ruas, até conseguir um emprego como motorista. “Eu nasço nessa ocasião e conheço o meu pai sempre atrás de um volante, como motorista. E, quando eu era criança, me lembro dele dizer que tinha o sonho de eu me tornar o homem do banco de trás, que para ele era uma pessoa importante, o chefe”, lembra André. Por conta do sonho do pai, André se formou em administração de empresas e foi contratado por uma multinacional. Se mudou para a Austrália para estudar na Universidade de Sydney, quando a vontade de ser escritor começou a falar mais alto. “Eu tento chegar à realização do sonho do meu pai e entro em uma multinacional. Começo a engrenar na companhia, já com uma situação de vida confortável, recebendo bem, mas infeliz, porque o meu sonho sempre foi ser escritor.” “Quando eu chego na Austrália tenho uma epifania ao encontrar livros de Monteiro Lobato que eu lia quando era criança e me fizeram ter a vontade de me tornar um escritor. E isso fez eu me questionar sobre o meu caminho: ‘o que eu realmente quero fazer?’. Naquele momento eu decido me tornar um escritor e vou atrás de histórias para contar”, conta. André, então, decide viajar o mundo para conhecer histórias e iniciar a trajetória como escritor, até que volta ao Brasil sem dinheiro e passar a morar nas ruas. “Durante a cerimônia, quando eu subi no palco, (percebi que) tudo o que passei para me tornar um escritor se concretizou. Esse prêmio não é meu, é resultado de tudo o que eu vivi lá atrás e de todas as pessoas que me apoiaram e duvidaram de mim. O conjunto de vivências que passei me trouxeram para esse momento”, comemora Kondo. Apoio de crianças Durante a entrevista, André também se emocionou ao lembrar do apoio que recebeu de crianças em uma feira literária que participou em Caraguatatuba (SP) neste mês. De acordo com ele, crianças que foram à feira conheceram a história do livro e torceram por ele quando souberam que a obra era finalista do Prêmio Jabuti. “Subir no palco também foi uma forma de dizer para todas aquelas crianças que, independentemente do sonho delas, mesmo que seja muito difícil, elas vão conseguir se acreditarem, se se esforçarem, se merecerem. Elas vão conquistar o Jabuti delas. Seja o que for, na área que for." Veja mais notícias do Vale do Paraíba e região bragantina

FONTE: https://g1.globo.com/sp/vale-do-paraiba-regiao/noticia/2025/10/28/vencedor-do-jabuti-foi-morador-de-rua-e-ganhou-premio-com-historia-do-pai.ghtml


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